Dr. Celso Granato esclarece dúvidas sobre surtos virais
O médico do Grupo Fleury explicou como os laboratórios do grupo controlam esses surtos.
Em setembro de 2019, o Dr. Celso Granato, médico infectologista do Grupo Fleury, foi entrevistado pelos colaboradores do Fleury Lab e esclareceu dúvidas sobre surtos virais em geral. Confira:
Entrevistadora: Olá, Dr. Granato. Poderia começar nos falando um pouco sobre os surtos que ocorreram recentemente e como os laboratórios de pesquisa têm agido em relação a isso?
Dr. Celso Granato: Olá! Bom, nos últimos dez anos, nós tivemos cerca de oito surtos aqui em São Paulo. Nós tivemos dengue, chikungunya, zika, febre amarela, H1N1, toxoplasmose, hepatite e sarampo. É como se tivéssemos quase um surto por ano. Acredito que laboratórios de pesquisa como o Fleury, estão em uma condição única que nos permite ajudar órgãos de saúde pública a antecipar esses surtos.
Nós precisamos seguir uma lei chamada notificação compulsória que funciona da seguinte maneira: dependendo do tipo de doença, devemos avisar entre 24 horas a uma semana que essa doença foi detectada pelo laboratório. Se for, por exemplo, um caso de Dengue temos uma semana para avisar, porque é pouco viável realizar uma ação imediata de prevenção. No caso do sarampo, se nós detectarmos um surto da doença, temos até 24 horas para notificar a Secretaria da Saúde sobre esse surto, pois é necessário começar a realizar um bloqueio da doença através da vacinação.
Entrevistadora: O Grupo Fleury como uma instituição que cuida disso precisa avisar sobre o caso do surgimento da doença, não é o médico?
Dr. Granato: A rigor, o médico deveria, mas não temos essa cultura no Brasil. O Fleury, mesmo obrigado pela lei, faz esse serviço de notificação muito bem. Temos uma área interna que fica atenta aos resultados dos exames e toda a semana comunica a Secretaria da Saúde sobre possíveis surtos.
Um exemplo aconteceu em 2017, quando detectamos um surto de hepatite A que atingia principalmente homens que realizavam atos sexuais com outros homens. Normalmente, temos 24 casos de hepatite A por ano, mas em 2017, foram mais de 500 casos.
Entrevistadora: Como foi feita essa descoberta? Vocês usam algum sistema para análise?
Dr. Granato: Geralmente essa percepção é realizada pelos próprios médicos, mas não podemos apenas contar com a percepção manual. É preciso que isso seja algo sistêmico, por isso estamos trabalhando agora em um sistema que faça isso de modo automatizado.
Entrevistadora: O que foi mais interessante de observar nesse caso específico?
Dr. Granato: O interessante do caso da hepatite A é que esta doença pode ser transmitida através de atividade sexual, mas normalmente é transmitida pela ingestão de alimentos. Quando detectamos o surto, fizemos um levantamento dos casos e todos eram de homens com idade entre 20 a 40 anos de idade. Deduzimos a partir disso que a doença devia estar sendo transmitida por homens que fazem sexo com outros homens.
Entramos em contato com a Secretaria da Saúde, pois em 15 dias aconteceria a Parada Gay em São Paulo. A Secretaria montou uma barraca no evento para alertar as pessoas sobre esse surto, lembrando sempre da necessidade de uso de camisinha e cuidado na seleção dos parceiros sexuais.
Do ponto de vista da saúde pública, isso foi importante, pois conseguimos avisar que algo estava acontecendo em uma época em que poderia gerar um surto ainda maior da doença. Graças a isso, as pessoas foram alertadas e ao longo do tempo, o número de casos foi diminuindo.
Entretanto, esse caso também teve desdobramentos científicos. Conseguimos isolar o vírus da hepatite A em alguns pacientes e enviamos os dados para um laboratório na Alemanha. Lá, identificaram que o vírus do Brasil era o mesmo que tinha causado um grande surto em uma Parada LGBT na Holanda. Pode-se presumir que alguns brasileiros de classe social privilegiada teriam participado da Parada da Holanda e acabaram por trazer o vírus para o nosso país.
Entrevistadora: Você acredita que a volta do sarampo ao Brasil pode ter sido causada por essa movimentação de viajantes entre diferentes países?
Dr. Granato: Eu acredito que provavelmente essa integração mundial foi um dos fatores, pois o fato é que vivemos em um mundo que ainda vive com o sarampo. Temos na Europa, África e Ásia. Isso coincidiu com um relaxamento da vacinação nesses locais.
O sarampo é uma doença que pode ser transmitida cerca de uma semana antes da pessoa expressar a doença clinicamente. Só que muitas vezes a pessoa não sabe que está passando o vírus para as outras por não apresentar sintomas. Em média, uma pessoa com sarampo contamina de 11 a 18 pessoas.
Entrevistadora: Como saber se a doença é transmissível e qual o período de incubação dela?
Dr. Granato: Nós sabemos isso a partir de estudos já feito há muitos anos. Se você foi para o interior visitar sua família e sua irmã estava com sarampo. Depois, você retorna para São Paulo e em uma semana está doente, nós notamos que essa doença provavelmente é transmissível.
O modo de transmissão também é notado por estudo, pois é preciso saber que tipo de contato que você teve com a pessoa. Se por exemplo, você foi no mesmo restaurante que sua irmã e as duas ficaram doentes, então provavelmente deve ter sido algo transmitido pela comida.
No Brasil, o que aconteceu para o surto de sarampo eu acredito que tenha sido um pouco de descuido na vacinação. Veja bem: o centro de saúde funciona somente das 8:00 ás 16:00, de segunda a sexta. Como uma pessoa que trabalha vai levar o filho para o posto de saúde?
No Fleury, por termos pessoas muito experientes na área e um processo automatizado, conseguimos manter um controle muito grande dos casos de surto que temos contato. Neste ano, já notamos que os casos de dengue aumentaram 10 vezes em relação ao ano passado. Claro, o tipo da doença também muda. Atualmente, estamos tendo um surto do tipo de dengue 2, uma doença que não tínhamos casos no país desde 2012.
Entrevistadora: Quais as características do dengue 2? É similar à dengue hemorrágica?
Dr. Granato: Ela é uma tipo de dengue mais violenta. Ainda não é hemorrágica, mas a tendência é que o casos de dengue hemorrágica aumentem, pois a doença está atingindo regiões que já tiveram dengue antes.
No Fleury, temos uma boa estrutura para monitorar os surtos desses vírus. Atualmente, estamos preocupados com um surto do vírus do nilo ocidental, que é transmitido através do contato com aves como patos e marrecos. Há vários casos nos Estados Unidos, mas não tínhamos muitos nos Brasil. Agora, porém, tivemos casos do Piauí, no Espírito Santo e no interior de São Paulo.
Por isso, estamos com um projeto de desenvolver um teste para essa doença, pois não temos esse teste ainda. Precisamos estar sempre em vigilância. Veja o caso do H1N1: quando os primeiros casos começaram a surgir na fronteira do México, um órgão do governo norte-americano fez o sequenciamento genético do vírus e divulgou para a comunidade. Quando o vírus chegou aqui, nós já estávamos preparados para agir contra ela.
Entrevistadora: Quais as características do nilo ocidental como doença?
Dr. Granato: Quando houve um surto dessa doença há alguns anos, ela atingiu diversos idosos com encefalite, uma doença do sistema nervoso central muito letal. Isso pode vir a acontecer, pois nunca tivemos um contato com essa doença antes e ela pode ocasionar um surto grande.
Entrevistadora: O Fleury chega a desenvolver vacinas?
Dr. Granato: Nós não fazemos, pois este não é o escopo do Fleury. Entretanto, nós temos trabalhado ao lado do Ministério da Saúde.
Quando houve o surto de chikungunya, o Ministério possuia este vírus liofilizado e nos fizeram uma doação o que nos possibilitou desenvolver um teste molecular em nosso Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) e pudemos oferecer este teste a população.
Entrevistadora: Qual seria o motivo desse grande surto de doenças nessa década?
Dr. Granato: Então, há certa similaridades entre elas que explicam seus surtos. Pegue o exemplo da dengue e da zika. Elas são transmitidas por um mosquita de difícil combate, pois temos temperatura alta e chuva durante o verão, fatores que aumentam a população do inseto. Com o aumento da população do mosquito, aumenta o surto dessas doenças, pois a via de transmissão é a mesma.
Atualmente, temos tido um aumento de casos de sífilis, que é uma DST. Isso está acontecendo graças a um certo descaso da população, uma vez que estamos tendo um tratamento melhor para doenças sexualmente transmissíveis.
Com a diminuição da vacinação, tememos agora um surto de poliomielite. Acontece que essa doença é muito menos transmissível que o sarampo, mas ela é muito grave. Por isso, precisamos orientar bem a população para evitar um possível surto.
Gostaria de ressaltar que a vacina não causa autismo, muito pelo contrário. Um estudo da Dinamarca com crianças vacinadas mostrou que, em meninas, a vacina tríplice viral diminuiu as chances da criança de desenvolver autismo. Esse dado ainda só foi notado em meninas, porque a população de meninos era menor.
Entrevistadora: Qual recado final você gostaria de deixar para o público
Dr. Granato: Com relação à população como um todo, eu peço que procurem sempre informações confiáveis sobre as doenças. Órgãos públicos costumam dar informações confiáveis, então são uma boa fonte sempre.
Não podemos baixar a guarda, pois vivemos em uma comunidade interligada e essas doenças ainda existem em todo o mundo.
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